quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Oficiala de Justiça e a Foice

Numa comarca do interior uma Oficiala de Justiça foi nomeada para trabalhar na Vara Criminal. Era uma moça pequenina e amedrontada, com poucos meses de experiência. Numa das primeiras vezes que foi cumprir um mandado criminal, ao saberem do local, um dos colegas mais antigos a alertou para a periculosidade da área. Eis que a moça foi bastante apreensiva para a diligência.

Chegando lá, seus temores se concretizaram, pois ao encontrar o acusado, lá estava ele suado, sem camisa, todo cheio de tatuagens e muito mal-encarado. Identificou-se para o homem e, para completar, ele, com um facão na mão, batia em um coqueiro e na frente da jovem começou a bater com mais força no coqueiro e a dizer, quase aos gritos:

- Tenho ódio de Justiça. Odeio Justiça. Tenho ódio de Justiça. Odeio Justiça.

Ela ficou impressionada e nervosa, com muito medo, querendo dar meia-volta, sem saber se cumpria ou não o mandado. Mas num átimo de coragem se dirigiu ao acusado, ainda que com a voz trêmula:

- O senhor tem toda razão. Vim aqui só para cumprir o mandado de doutora Fulana.

- Doutora Fulana? Tenho ódio de doutora fulana. Tenho ódio de doutora fulana...

- O senhor tem toda razão. Realmente a Justiça... O senhor tem ódio da Justiça, tem ódio da doutora e eu concordo com o senhor. Realmente... Se o senhor quiser uma testemunha, se precisar de uma testemunha, pode deixar que eu estou aqui a seu favor!

Pela primeira vez o acusado olhou para a oficiala, arregalou os olhos, mas sem tirar o facão de uma das mãos, disse:

- É... Tô vendo que a senhora é uma pessoa correta, uma pessoa descente.

- Pois não... Mas tá vendo esse mandado aqui? – mostrando timidamente a folha de papel que era acompanhada da denúncia – Era só pra o senhor assinar, mas se o senhor não quiser assinar, não tem importância, não tem problema nenhum, pois compreendo sua dor.

E ele continou olhando fixamente a meirinha e disse:

- A senhora é uma pessoa de bem, é uma pessoa correta... Pois saiba que eu vou assinar – batendo com a foice no peito.

Morrendo de medo a oficiala estendeu o trêmulo braço com o mandado e o acusado assinou. Foi seu batismo de fogo na profissão!

Rosivaldo Toscano Jr.- Juiz de Direito

Um comentário:

  1. Cara, a gente precisa se atualizar. Não conhecia o seu blog ainda. Parabéns!
    Agora, posso acompanhar suas atualizações.
    Já conhece o da banda?
    www.alfredoeoscaras.com.br
    Abraço!

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